A história de nossas vidas é a história de nossas frustrações sexuais. Nada simboliza melhor a condição de apatetamento que assola nosso caráter, nada demonstra com mais eficiência a sensação de impotência que rege nossa existência. De todos os embates que enfrentamos - a luta pela sobrevivência, pelo sucesso, pela transcendência -, este é o mais baixo, o alicerce mais fundamental do espírito. Vivemos no limite, sabendo que sempre poderíamos ter mais sexo, mais selvageria, em nosso dia-a-dia: e essa certeza, de que a vida poderia ser um evento memorável e não é, nos corrói.
Certamente é trágico pensar que a riqueza da essência humana se faz conduzir pela libido; mas pensei muito no assunto e não consigo chegar a outra conclusão. Talvez eu vá mudar de idéia no futuro, mas não creio.
Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas, não é possível separar as esferas da vida - a emocional, a social, a profissional e assim por diante - e achar que é possível ter "azar no trabalho e sorte no amor", ou relacionar-se bem com seus vizinhos quando sua vida em casa está uma merda. Todos os fatos vividos estão conectados, hierarquizados numa sucessão de sensações de amor, fraternidade, solidariedade, renúncia e angústia, regidas todas pela frustração a que me referia. A fonte da vida, o "animus", a alma de cada ato movido pela paixão que provocamos e sofremos, provém da libido e das frustrações que seu atrofiamento acarreta.
A libido é um fluido, um músculo, um órgão, um organismo que nos move e liberta, que fatalmente nos extermina, que nos impele ao abismo da felicidade. "O homem é estômago e sexo", disse Schopenhauer. Buscamos o tempo todo e de diversas maneiras romper essa ditadura da pele, trair a gramática do sexo, mas essa tentativa acaba nos tornando mais miseráveis.
Melhor seria abraçar nossa herança animal, torná-la irmã da sociedade que levamos séculos para construir e desenvolver. Viver civilizadamente, em sociedade, não é mal, nos proporcionou o domínio sobre a natureza e os nossos instintos auto-destrutivos. O exagero da civilização, no entanto, nos levou à robotização e ao aprofundamento de nossas frustrações. Não seria muito mais interessante viver sob o paradoxo do homem e do animal, ao invés de entregar a alma ao homem para matar a besta interna?
A angústia de não conseguir conciliar os extremos da besta-fera e do autômato civilizado é o que torna nossas frustrações sexuais o motor de nossas vidas. Transformamo-nos em crianças no sentido emocional com capacidade para matar por qualquer motivo, e esse é o pior dos mundos.