sábado, novembro 25, 2006

ano e meio

Hoje faz um ano e meio que nos separamos. Quando penso nisso, só me lembro de João Gilberto cantando “tá fazendo um ano e meio, amor... que nosso lar... desmoronou” (perdoe o desafino). Acho que estou bebendo agora pra comemorar.

“Comemorar o quê?!”, dirão. “Não doeu, não foi terrível? Quantas vezes nesse tempo você não a imaginou em seus braços? Por quantos meses mais você irá se recriminar de haver terminado as coisas do jeito mais doloroso possível? O que há para se comemorar nisso?”

É verdade. Mas, mesmo com a depressão e o remorso, sempre pensei e ainda penso que tomei a decisão correta. Se hoje posso viver com sua memória de modo relativamente sereno, é porque tomei decisões que, mesmo precipitadas, saíram do fundo de minhas entranhas.

Pouco a pouco, paro de repisar as circunstâncias do fim de caso.

Os dias de ressentimento tornaram-se horas, minutos e, finalmente, instantes de melancolia concentrada. Seu rosto, que tanto me feria nesse meio tempo, agora não possui mais os detalhes e as feições dos quais eu me recordava tão bem. Em algum tempo não passará de uma mancha branca com o mero esboço dos olhos e da boca. O sexo se transmutará em outros gozos, novos cheiros e texturas, recriando o tecido de seus gemidos em infinitas combinações.
Sua voz rouca e doce se confundirá com a miríade de outras vozes que, agora, ocupam meu pensamento. Assim é o movimento do mundo.

E pensar que, na minha terna ingenuidade, eu cheguei a suspeitar que alguns amores haviam nascido para durarem para sempre...

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