
“Comemorar o quê?!”, dirão. “Não doeu, não foi terrível? Quantas vezes nesse tempo você não a imaginou em seus braços? Por quantos meses mais você irá se recriminar de haver terminado as coisas do jeito mais doloroso possível? O que há para se comemorar nisso?”
É verdade. Mas, mesmo com a depressão e o remorso, sempre pensei e ainda penso que tomei a decisão correta. Se hoje posso viver com sua memória de modo relativamente sereno, é porque tomei decisões que, mesmo precipitadas, saíram do fundo de minhas entranhas.
Pouco a pouco, paro de repisar as circunstâncias do fim de caso.
Os dias de ressentimento tornaram-se horas, minutos e, finalmente, instantes de melancolia concentrada. Seu rosto, que tanto me feria nesse meio tempo, agora não possui mais os detalhes e as feições dos quais eu me recordava tão bem. Em algum tempo não passará de uma mancha branca com o mero esboço dos olhos e da boca. O sexo se transmutará em outros gozos, novos cheiros e texturas, recriando o tecido de seus gemidos em infinitas combinações.
Sua voz rouca e doce se confundirá com a miríade de outras vozes que, agora, ocupam meu pensamento. Assim é o movimento do mundo.
E pensar que, na minha terna ingenuidade, eu cheguei a suspeitar que alguns amores haviam nascido para durarem para sempre...
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