terça-feira, dezembro 05, 2006

nós

Meu pai ensinou-me a dar um nó de gravata quando eu tinha dezoito anos. É o mesmo que uso até hoje.

Existem vários tipos: o simples, o clássico, o windsor, o meio-windsor. O de meu pai é um simples. Ele nunca me ensinou a fazer outro tipo, mas, também, eu nunca precisei. O simples é rápido e fácil de fazer, e também acho que papai não sabia fazer outro. Creio que ele se contentava com esse; imagino que, quando ele tinha dezoito anos e havia acordado na manhã do primeiro dia de seu primeiro emprego, meu avô deve ter ensinado o nó simples a ele. Com o tempo, a tradição ficou.

Não sei se quero aprender outro nó: gosto desse. Sei que há muito mais nele do que apenas o trançar e puxar de uma gravata. Penso em meu avô e no tempo em que todo homem tinha que usar gravata até para ir na esquina comprar pão. Esse nó deve ter servido muito bem.

Penso em quanto tempo foi necessário e quantas gravatas passaram pelos pescoços de minha família para que eu estivesse hoje dando esse nó. Ele não é perfeito, longe disso: sempre que o aperto, penso que estou apertando minha própria coleira de vícios herdados no sangue. Às vezes, cogito aprender outro nó e quebrar a ditadura hereditária para que meu filho não carregue os mesmo traços que tantas vezes me parecem tão antiquados.

Mas, quando ainda estou ruminando o assunto, vejo que já enlacei a gravata ao redor do pescoço da maneira habitual. Dou uma olhada no espelho e acabo chegando à conclusão que realmente não há nada de errado com o nó.

Mesmo com suas falhas, é um bom nó, que já serviu a meu pai, meu avô e o pai dele, e que me deixa orgulhoso de tê-lo aprendido.

Não há nada de errado com o nó, mas talvez haja algo de errado comigo.

Um comentário:

Stephanie disse...

talvez a evolução da espécie faça com que vc se questione a respeito do nó. Pode piorar, pois um dia, você pode flagrar seu filho fazendo um nó diferente. Que aprendeu na rua, com algum amigo, renegando toda um série de valores.

Quanto ao mistério, sim, querido é preciso alguma metafísica para dar graça à vida, concordo.

Mas às vezes o mistério coloca a mulher como algo complicadíssimo, incompreensível, hermético e se desiste de entender antes de tentar.

às vezes são as próprias contradições de ser mulher, mais algum mistério.

se algum dia eu topar comigo mesma te aviso!

beijo!